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segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Dança Afro na Bahia Pede a Bênção aos Pioneiros

Falar em dança afro na Bahia, no seu aspecto mais contemporâneo, é voltar as décadas de 1970/1980, e rememorar a efervescência cultural que viveu a Bahia, diga-se Salvador, neste período. Foi a época da contracultura, onde se valorizava o experimentalismo em todas as linguagens artísticas e também se buscava criar expressões artísticas onde    aspectos da cultura nacional eram ressaltados, flertando também com outras culturas universais. É dentro deste bojo que desponta o tropicalismo dos artistas baianos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Tomzé e também das cantoras Gal Costa e Maria Bethânia.

Neste momento histórico, em 1975, em Salvador, surge o primeiro bloco afro moderno, o Ilê Aiyê, que iria mudar toda a estética e o comportamento em geral, da juventude negra. Depois do Ilê outros blocos afros surgiriam na Bahia, o extinto Badawê (Engenho Velho de Brotas), Olodum (Pelourinho), Muzenza (Liberdade), Ara Ketu (Subúrbio Ferroviário) e outros. Os negros e negras passam a usar roupas mais coloridas, muitas de inspiração africana, e nas cabeças começam a usar o cabelo no estilo black power e as trancinhas remetendo também aos "manos" e "manas" africanos (as).

É dentro deste caldeirão, que surge também em Salvador, inúmeros grupos folclóricos, o Viva Bahia (dirigido por Emília Biancardi), que fez inúmeras turnês pela Europa, entre 1970/80, o Grupo de Dança Folclórica do Senac, do Pelourinho, tendo a frente Raimundo King, no Colégio Estadual Severino Vieira, no bairro de Nazaré, a etnomusicóloga  Emília Biancardi cria a Orquestra Afro-Brasileira (1980).

Com a consolidação da dança afro em 1988, o bailarino Wolson Botelho (Vavá) cria o Balé Folclórico da Bahia (BFBA), que freqüentemente se apresenta em todo o Brasil, e ainda nos EUA, França, Bélgica, Berlim e outros países dos cinco continentes. Podemos considerar o BFBA um dos grupos folclóricos mais importantes do país.

Com a criação dos grupos folclóricos e o surgimento dos blocos negros, a dança afro em toda a Bahia, tem uma expansão bastante expressiva. E dentro  desta nova realidade, não podemos deixar de citar importantes artistas, tais  como: o ator e bailarino baiano Mário Gusmão, o bailarino norte-americano Clayde Morgan o coreógrafo baiano Raimundo King, dentre outros. Estes artistas, pela primeira vez, em toda a Bahia levaram aos palcos soteropolitanos e de outras cidades brasileiras e do mundo a dança afro e também um teatro de expressão negra. como manifestações genuinamente artísticas e pensantes, sem serem rotuladas de expressões folclóricas, no sentido pejorativo do termo. Daí a nossa homenagem especial a estes três mestres.

Mais tarde, no decorrer dos anos 80, com a já consolidação da dança afro o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), criado em 1981, também levou aos palcos baianos e de outras partes do mundo coreografias inspiradas em temáticas afro-baianas, onde as danças sagradas dos orixás foram utilizadas como expressão artística, a exemplo de  Iê Camará (Carlos Moraes, 1983); Saurê (C. M., 1982) e Orixá (do argentino Luis Arrieta, 1995).

Não podemos deixar de assinalar ainda, que no começo da formação do BTCA muitos bailarinos eram jovens negros, alguns oriundos dos blocos afros e grupos folclóricos de Salvador, como Dionísio Filho, Ninho Reis, Reinaldo Nascimento (Flexa 2), Augusto Omolú. Evandro Macedo, Gilmar Sampaio, Paullo Fonseca e Agnaldo Fonseca.

Mesa Redonda e a Exposição Reis Ninho debatem a Dança Afro na Bahia no Cine-Teatro Lauro de Freitas


Mário Gusmão "O Anjo Negro da Bahia"

Quem viveu a efervescência cultural da Bahia dos anos de 1970/80, diga-se Salvador, deve se recordar como a dança afro ganhou uma projeção especial nas mídias baianas e mesmo em todo o Brasil. Pela primeira vez no estado, as expressões de dança genuinamente baiana e afro-baianas foram elevadas ao status de arte. E isso graças, a atuação de nomes como o ator e dançarino Mário Gusmão, o norte-americano Clayde Morgan, o bailarino e professor Raimundo King, a pesquisadora Emília Biancardi e outros artistas que atuavam com excelência nos “loucos” anos 70/80, na Bahia.

É sobre este tema que na próxima terça-feira, 26 de abril, às 19h30min, no Cine-Teatro Lauro de Freitas/CTLF (Praça da Matriz, centro), será realizada a Mesa Redonda “A Dança Afro na Bahia dos Anos 70 aos Dias de Hoje - Uma homenagem a Mário Gusmão”. Participarão da mesa os bailarinos Raimundo King (graduado em Licenciatura em Dança pela UFBA e atualmente é diretor e coreografo do Grupo de Dança Gêneses) Dionísio Filho (licenciado em dança pela Universidade Federal da Bahia/UFBA, ex-integrante do Balé Teatro Castro Alves/BTCA), Paulo Fonseca, (dançarino do BTCA), Silvia Rita (graduada em Licenciatura em Dança pela UFBA). A entrada é franca.

Após o encerramento do debate será aberta oficialmente a Exposição Fotográfica Ninho Reis, também um importante nome para a dança afro na Bahia nos anos de 1970 e 1980. Ninho Reis (Eutaciano Reis de Oliveira), falecido em 1991, era natural de Coaraci, região cacaueira baiana, trabalhou como ator, modelo, dançarino, produtor cultural e diretor artístico de grupos de dança. Ele levou aos palcos do mundo a dança afro-baiana, na Europa, Estados Unidos da América (EUA), Canadá e países do continente africano. Participou de diversos grupos folclóricos, como o Grupo de Dança Orixás da Bahia e o Balé Folclórico da Bahia, dançou no Ara Ketu e outros blocos afros do Carnaval baiano.

Ninho, no verão de 1979, juntamente com os bailarinos Antônio Alcântara e Rogério Eduardo criou o espetáculo Frutos Tropicais, título que se tornaria o nome do grupo, com elenco unicamente masculino. Os três espetáculos do Grupo - Frutos Tropicais, Correntes e Ginga  ganharam todos os prêmios vigentes em Salvador: melhor espetáculo de 1979, melhor coreografia e melhor solista de 1980, melhor espetáculo e destaque em 1981.

SERVIÇO

O quê: Mesa redonda A Dança Afro na Bahia dos Anos 70 aos Dias de Hoje – Homenagem a Mário Gusmão e exposição Ninho Reis.
Onde: Cine-Teatro Lauro de Freitas, Praça da Matriz, centro.
Quando: Mesa redonda, terça-feira, 26 de Abril               
e Exposição Ninho Reis de 26 de Abril a 30 de Maio
Quanto: Entrada franca.